quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O Conselho
Um Poder Paralelo .


Enquanto escutavam as gravações que Fernando recebeu pelo correio naquela manhã de julho, Harry, Victória, Paula e o próprio Fernando se entreolhavam em um misto de excitação e dúvida.
A excitação vinha do inesperado conteúdo das gravações e a dúvida, sobre sua veracidade.
Depois de ouvir todas as fitas sozinho, Fernando chamou Paula para compartilhar com ela aquele material.
Era tão incrível que logo levaram para Harry e Victória. Harry se espantou, pois há muitos anos  não ouvia falar assim tão abertamente do Conselho.
O Conselho era uma temida sociedade secreta que por décadas vinha dominando todos os ramos de atividade no país.
O Conselho teve origem na década de 70 e fizera parte do então Governo como um órgão consultivo por assim dizer, mas seu grau de influência em todos os setores do Governo foi tamanho, que acabou banido.
Desde que retomou suas atividades, na clandestinidade, no começo dos anos 2000, ninguém conseguiu provar, não só sua existência como qualquer das atividades desenvolvidas. Ninguém se atreve a falar abertamente do Conselho, muito menos ousa dizer que foi ajudado por ele.
Cientistas, políticos, empresários, intelectuais e principalmente banqueiros fazem parte dos braços do Conselho.
Isso é sabido por todos.
Agora provar isso, até hoje ninguém provou.

Ao longo dos anos nenhum Governo nunca agiu concretamente para acabar com as atividades do Conselho. Os governantes sabem que para isso é necessário expor fragilidades e falhas que ninguém quer correr o risco de mostrar.
O Conselho por sua vez faz de tudo para não se expor.
O Conselho aprendeu com os revezes do passado que a clandestinidade e o sigilo são sua maior arma e assim, cada vez que se faz alguma investigação e se chega a provas de sua existência e atividades tudo é feito para que estas provas sejam desacreditadas, consideradas falsas ou simplesmente acabem desaparecendo, como se nunca houvessem existido . Com isso nenhuma investigação consegue ter prosseguimento. 

Por isso, ninguém naquela sala podia acreditar no que estava acontecendo.
Quem teria feito estas gravações, como conseguira fazê-lo? Teria que ser alguém muito próximo ao Conselho, pois eram escutas feitas em uma sessão do Conselho e se fossem reais comprovavam não só sua existência como dava uma dimensão de sua atuação.
Através delas poderia se saber quem eram seus membros, como agiam todos os seus braços, inclusive o braço armado que cuidava da segurança de seus membros e executavam algumas ações consideradas imprescindíveis para a manutenção da ordem e do próprio Conselho.

As gravações traziam muitas informações, mas ficavam algumas perguntas.
Quando teriam sido feitas estas escutas?
Quem as teria feito?
Qual seria seu objetivo?
Enfim, coisas que talvez nunca se soubesse ao certo.
No passado o Diário News já havia tentado, sem resultado por muitas vezes investigar as atividades do Conselho.
Agora com estas gravações se podia expor que o Conselho havia se infiltrado novamente em todos os níveis da sociedade organizada e das esferas governamentais.

Pelas gravações ficava claro que o Conselho tinha a seu favor além da capacidade intelectual de seus membros, recursos financeiros abundantes para financiar suas atividades. Claramente  eles tinham dinheiro, influência e acesso a todo tipo de informação. 
Enfim o Conselho possuía todos os elementos para a formação de um Poder Paralelo.

Eram apenas áudios, nenhum tipo de imagem, mas certamente bastavam para conseguir a mais sensacional matéria jornalística de todos os tempos.
Decidiram então que Fernando e Paula fariam sigilosamente a transcrição dos áudios e montariam a série de reportagens a serem publicadas. 
Com certeza estas publicações forçariam as autoridades a abrir muitas investigações oficiais. 

 Eram tantos dados que seria quase que impossível que as investigações não levassem a mais provas.
Com certeza todo um processo de mudanças políticas e administrativas teria inicio no País.
Isso seria inevitável.
Harry deixou claro que achava tudo isso sensacional e estava disposto a bancar os riscos que isso representava.
Com toda sua experiência Harry sabia bem que este tipo de matéria tinha um grau muito elevado de periculosidade tanto para o Jornal quanto para ele e sua equipe.

Para Fernando e Paula também era uma grande oportunidade.
Os dois sabiam também que não era um assunto qualquer a mexer, era como se diz, botar a mão no vespeiro.
E todos ali tinham uma grande noção do tamanho do vespeiro.
Fernando sabia, ao mostrar o material que recebera a Harry, que sua credibilidade como jornalista aliada à liberdade editorial que Harry tem, lhes permitiria bancar esta aposta, por mais alta que fosse.
Os louros que o Diário News colheria bem como eles do ponto de vista profissional, sob todo os aspectos , compensavam os problemas que certamente iriam enfrentar.

Ao final do dia, depois de muitas conversas e planejamento, foram todos para casa, com muitas expectativas para a longa jornada que se iniciaria. 
Na manhã seguinte, todos foram surpreendidos ao chegar ao Jornal.
Um vigia noturno e dois jornalistas que estavam de plantão foram encontrados, logo cedo, pelos primeiros funcionários a chegar, presos em um dos banheiros da redação.
A redação e a sala de Harry estavam totalmente reviradas.
As câmeras de segurança do prédio haviam sido desligadas.
A única coisa que se sabia é que dez homens armados e encapuzados chegaram durante a madrugada e sem usar de violência prenderam os reféns e reviraram tudo.
A polícia foi chamada e todos foram unanimes em seus depoimentos.
Após uma detalhada verificação ficou constatado que  nada fora levado, máquinas, computadores e demais eletrônicos, tudo estava lá.

A polícia concluiu que o Diário News fora vítima de um atentado.
Nenhum prejuízo material foi constatado, nenhuma ameaça ou agressão física fora praticada, ficou apenas uma grande bagunça.
Somente Harry, Victória, Paula e Fernando, sabiam o inestimável prejuízo que esta ação causara.
Prejuízo, para eles, para o Diário e para o País.
As gravações haviam sido levadas.
Não havia nada a fazer, nem a dizer, a quem quer que fosse nem mesmo a Polícia.
Harry resolveu confirmar para a Polícia que não haviam levado nada do Jornal.
Era melhor assim, mais seguro.

Não havia como denunciar o ocorrido.
Ninguém jamais acreditaria na existência das gravações e sem elas, mais uma vez nada seria provado contra o Conselho.
De nada adiantava escrever uma linha sobre o assunto.
Após a Polícia ir embora, Harry se trancou em sua sala com 
Victória, Paula e Fernando.
Todos tinham uma certeza, fora  
uma ação do Conselho que mostrou claramente seu poder.
Ao mesmo tempo ficava a dúvida para todos, como eles tinham descoberto que as gravações foram feitas e chegaram até a redação.
Somente eles sabiam das gravações e ninguém ali teria interesse em sumir com as mesmas , isso era certo.
Harry, Victória e Paula, estavam visivelmente abatidos.
Fernando foi o único a não demonstrar abatimento, apenas sua irritação foi notada quando se deparou com o cenário na Redação.

Ele não havia dito nada a ninguém, e diante dos fatos achou melhor se calar.
Experiente após conhecer o conteúdo das gravações, antes de mostrar aos demais ele fizera várias cópia de todo o conteúdo recebido e além de levar o material físico para vários lugares seguros, subiu todo o conteúdo para um site de armazenamento em nuvem.  
No momento certo, quando se sentisse seguro, ele começaria a investigar e produziria a matéria sobre o Conselho.
Até lá ninguém, por segurança, nem mesmo Paula saberia disso.
Era melhor assim.





Um comentário:

  1. Oi amiga, você nos desejou um bom domingo e realmente está sendo, pois estamos curtindo um solzinho que faz tempo não se curte, isto sem falar do culto da Ceia do Senhor, que foi abençoadíssimo. Quanto ao seu escrito acima, fiz uma leitura dinâmica, achei bem elaborado, ainda mais vindo de você que é superinteligente. Tenha uma linda semana. Bjs!!!

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